1º Domingo da Quaresma
Na quarta-feira passada, com o Rito das Cinzas, entramos na Quaresma, tempo de conversão e de penitência, em preparação para a Páscoa. A Igreja, que é mãe e mestra, nos convida a orientar-se decididamente para Deus, renegando o orgulho e o egoísmo para viver no amor. Neste Ano Jubilar, a Quaresma é um tempo favorável para redescobrir a fé e a esperança em Deus como base da nossa vida e da vida da Igreja. Isto implica sempre numa luta, num combate espiritual, porque o espírito do mal naturalmente se opõe à nossa santificação e procura desviar-nos do caminho de Deus. Por isso, no primeiro domingo de Quaresma, todos os anos, é proclamado o Evangelho das tentações de Jesus no deserto.
Das três tentações às quais Satanás submete Jesus, a primeira tem origem na fome, ou seja, na necessidade material: "Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pão". Mas Jesus responde com a Sagrada Escritura: "Nem só de pão vive o homem" (Lc 4, 3-4; cf. Dt 8, 3). Depois, o diabo mostra a Jesus todos os reinos da terra e diz: tudo será teu se, prostrando-te, me adorares. É o engano do poder. Jesus desmascara esta tentativa e afasta-o: "Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a Ele prestarás culto" (cf. Lc 4, 5-8; Dt 6, 13). Não adoração do falso poder, mas só de Deus, da verdade e do amor. Por fim, o Tentador propõe a Jesus que realize um milagre espectacular: lançar-se dos altos muros do Templo e fazer-se salvar pelos anjos, de modo que todos acreditassem n'Ele. Mas Jesus responde que Deus nunca deve ser posto à prova (cf. Dt 6, 16). Não podemos "fazer uma experiência" na qual Deus deve responder e mostrar-se Deus: devemos acreditar n'Ele! Não devemos usar Deus como "matéria" da nossa "experiência"!
Referindo-se sempre à Sagrada Escritura, Jesus antepõe aos critérios humanos o único critério autêntico: a obediência, a conformidade com a vontade de Deus, que é o fundamento do nosso ser. Também este é um ensinamento fundamental para nós: se trouxermos na mente e no coração a Palavra de Deus, se esta entrar na nossa vida, se tivermos confiança em Deus, poderemos rejeitar qualquer engano do Tentador. Além disso, de toda a narração sobressai claramente a imagem de Cristo como novo Adão, Filho de Deus humilde e obediente ao Pai, ao contrário de Adão e Eva, que no jardim do Éden, tinham cedido às seduções do espírito do mal.
A Quaresma é como um longo "retiro", durante o qual devemos cair de novo em nós mesmos e ouvir a voz de Deus para vencer as tentações do Maligno e encontrar a verdade do nosso ser. Podemos dizer que este é um tempo de "competição" espiritual para viver juntamente com Jesus, não com orgulho e presunção, mas usando as armas da fé, ou seja, a oração, a escuta da Palavra de Deus e a penitência. Deste modo, iremos celebrar a Páscoa na verdade, prontos para renovar as promessas do nosso Batismo. Ajude-nos a Virgem Maria para que, guiados pelo Espírito Santo, vivamos com alegria e proveito este tempo de graça.